Paiva
Netto
O Dia Mundial de Combate à Desertificação e à
Seca é lembrado em dezessete de junho. Vale, portanto, ressaltar recentes e
alarmantes estatísticas. Uma delas vem da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Quase nove em cada dez habitantes das
cidades do mundo estão sujeitos a níveis de poluição acima do aceitável segundo
os padrões da OMS”, destacou a Agência Brasil. Depois, conforme noticiou a
Deutsche Welle, uma pesquisa do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica diz
que os reservatórios de água no país, considerados críticos pela Agência
Nacional de Águas (ANA), perderam em média 80% de sua cobertura florestal.
Ora, os danosos impactos desse verdadeiro
"arboricídio" estão aí. O ar, o solo e a água diariamente escasseiam
em qualidade, fertilidade e abundância.
Cuidado, estamos respirando a morte
Há quase 14 anos, em 1º. de julho de 2000, a
revista Manchete publicou um artigo
meu que parece até que foi escrito hoje:
Atualmente, em vastas regiões da Terra, o
simples ato de respirar corresponde à abreviação da vida. Sofrimentos de origem
pulmonar e alérgica crescem em progressão geométrica. Hospitais e consultórios
de especialistas vivem lotados com as vítimas das mais diferentes impurezas.
Abeirar-se do escapamento de um veículo é
suicídio, tal a adulteração de combustível vigente por aí. Isso sem citar os
motores desregulados...
Cidades assassinadas
Quando você se aproxima, por estrada, via
aérea ou marítima, de grandes centros populacionais do mundo, logo avista paisagem
sitiada por oceano de gases nocivos.
Crianças e idosos moram lá... Merecem
respeito.
No entanto, de maneira implacável, sua saúde
vai sendo minada. A começar pela psíquica, porquanto as mentes humanas vêm
padecendo toda espécie de pressões. Por isso, pouco adiantará cercar-se de
muros cada vez mais altos, se de antemão a ameaça estiver dentro de casa,
atingindo o corpo e a psicologia do ser.
Em cidades praieiras, a despeito do mar, o
envenenamento atmosférico avança, sem referência à contaminação das águas e das
areias... O que surpreende é constituírem, muitas delas, metrópoles altamente
politizadas, e só de algum tempo para cá seus habitantes na verdade despertarem
para tão terrível risco.
Despoluir qualquer área urbana ou rural
deveria fazer parte do programa corajoso do político que realmente a amasse.
Não se pode esperar que isso apenas ocorra quando se torna assunto lucrativo.
Ora, nada mais proveitoso do que cuidar do cidadão, o Capital de Deus.
As questões são múltiplas, mas esta é
gravíssima: estamos respirando a morte. Encontramo-nos diante de um tipo de
progresso que, ao mesmo tempo, espalha ruína. A nossa própria.
Comprova-se a precisão urgente de ampliar em
largo espectro a consciência ecológica do povo, antes que a queda de sua
qualidade de vida seja irreversível. Este tem sido o desafio enfrentado por
vários idealistas pragmáticos. Entretanto, por vezes, a ganância revela-se
maior que a razão. O descuido no preparo de certas comunidades, para que não
esterilizem o solo, mostra-se superior ao instinto de sobrevivência. (...)
A poluição que chega antes
A infinidade de poluições que vêm
prejudicando a vida de cada um deriva da falência moral que, de uma forma ou de
outra, inferniza a todos. Viver no presente momento é administrar o perigo. Mas
ainda há tempo de acolhermos a asserção de Antoine
de Saint-Exupéry (1900-1944): “É
preciso construir estradas entre os homens”. Realmente, porque cada vez
menos nos estamos encontrando nos caminhos da existência como irmãos. Longe da
Fraternidade, não desfrutaremos a Paz.
José de Paiva
Netto, jornalista, radialista e escritor.