Hoje se faz necessário pôr abaixo as
bastilhas invisíveis, todavia, de consequências bem palpáveis: espirituais,
morais, psicológicas, do sentimento.
Dia
14 de julho. Completam-se 228 anos da Queda da Bastilha, episódio que deflagrou
a Revolução Francesa (infelizmente manchada pelo sangue dos guilhotinados),
cujas origens remontam aos enciclopedistas, vanguardeiros do iluminismo.
Relativo ao tema, selecionei apontamentos meus, ao longo do tempo, de
palestras, programas de rádio, TV e de artigos publicados no Brasil e no
exterior.
Não
tenho pretensão de discutir aspectos históricos ― existem bons livros para isso
―, contudo extrair uma importante analogia sobre quanto ainda é forçoso trilhar
a fim de que as populações da Terra deixem ruir de suas mentes e corações a
pior de todas as bastilhas: a ignorância acerca da realidade gritante da vida
após o fenômeno da morte. Fator decisivo para que a valorização do ser integral
(corpo e Espírito) dite as regras dos governos das nações no Terceiro Milênio:
Quando garoto, devia ter 9 para 10 anos, assisti com meu pai, Bruno Simões de Paiva (1911-2000),
no Rio de Janeiro, a um filme sobre o 14 de Julho.
Nos
séculos 17 e 18, o absolutismo monárquico atingira intensa projeção. Como
geralmente acontece nas relações cotidianas, se afastadas do respeito ao
Espírito Eterno do ser humano, houve por parte da monarquia francesa um descaso
tremendo com as necessidades básicas do seu povo, cuja expressão mais grotesca
seria a frase que teria sido proferida pela rainha Maria Antonieta (1755-1793), ao ser informada por um dos
cortesões de que o barulho que a importunava vinha das massas famintas clamando
por pão: “Por que não comem
brioche?”.
Tal
contingência desumana tinha de desmoronar por força do curso inexorável da
História. A população de Paris, em 14 de julho de 1789, desesperada,
marchou contra a prisão, símbolo da tirania de que desejava livrar-se.
Abrir caminhos
Nesse
filme há uma cena impressionante. Ela representa as pessoas que não temem abrir
caminhos: o povo estava de um lado e aqueles que protegiam a Bastilha, do
outro. Entretanto, os que ameaçavam invadi-la, com temor, não avançavam. De
repente, um homem destacou-se do meio daquela multidão e atravessou a ponte que
cobria o fosso, sendo abatido por uma descarga de tiros. Esse ato de coragem
fez com que os demais o imitassem e, assim, conseguissem entrar na fortaleza.
Parece perspectiva romântica de um momento trágico, porém retrata de modo
irretocável uma verdade: há sempre alguém que se sacrifica pela mudança
substancial do status quo. Não é
preciso levar bala para que as transformações ocorram. Há outros choques que
ferem mais os vanguardeiros, a exemplo da incompreensão, da inveja, do
preconceito, da perseguição e do boicote.
Na
sequência do longa-metragem, observamos a tomada da prisão, destruída de cima a
baixo.
Existem
aqueles que, tentando minimizar o fato histórico, apresentam uma argumentação
frugal de que o famoso cárcere não mais tinha relevância naquele período, pois
apenas uns poucos presos lá se encontravam.
Ora,
o que o povo demoliu não só foi a construção de pedra; no entanto, o mais
expressivo emblema, para ele, do absolutismo dinástico!
E a
palavra dinastia pode, por extensão, significar muita coisa, uma vez que
funciona tanto no feudalismo quanto na burguesia, no capitalismo e no próprio
comunismo. Dinastia não implica somente a sucessão por sangue. Existe uma pior:
a da ambição desmedida que arrasa o ser vivente, sob qualquer regime.
Uma nova civilização
Hoje
se faz necessário pôr abaixo as bastilhas invisíveis, todavia, de consequências
bem palpáveis: espirituais, morais, psicológicas, do sentimento.
Façamos
florescer uma civilização nova a partir da postura mental e espiritual elevada
de cada criatura. Já dizia o filósofo: “A
fronteira mais difícil a ser transposta é a do cérebro humano”. O
homem foi à Lua, mas ainda não conhece a si mesmo.
O
Templo da Boa Vontade — aclamado pelo povo como uma das sete maravilhas de
Brasília e que, segundo dados oficiais da Secretaria de Turismo do Distrito
Federal (Setur-DF), é o monumento mais visitado da capital do país — convida as
criaturas a essa epopeia de empreender uma viagem ao seu próprio interior.
Feito isso, sair até mesmo da Via Láctea será facílimo: desde que descubramos o
âmago celeste de nosso ser, pois, na verdade, para o Espírito, o espaço não
existe.
Assegurou
Jesus: “Tudo é possível àquele que crê” (Evangelho, segundo Marcos, 9:23).
José de Paiva Netto ― Jornalista, radialista e escritor.
paivanetto@lbv.org.br —
www.boavontade.com