A morte do adolescente Gabriel do Carmo Moreira, 15 anos, atingido por dois tiros disparados por um policial militar, na tarde de ontem, em Navegantes, revoltou familiares e vizinhos do garoto. Gabriel tinha discutido com os pais e foi pro meio da rua com uma faca de cozinha.
A polícia Militar foi acionada pelo pai. Quando chegaram na pacata rua Francisco Schmidt, os PMs mandaram o menor largar a faca. De acordo com a versão oficial, o garoto teria ido para cima dos policiais.
Eles deram três tiros de bala de borracha e na sequência mandaram tiros de verdade contra o garoto, que morreu na rua.
O crime teve várias testemunhas. Todas relataram o despreparo da polícia Militar em lidar com a situação. “Se fosse bandido, os policiais não fariam o que fizeram com ele”, desabafou um vizinho, afirmando que o menino não fez nada que justificasse essa reação.
O morador contou que o policial disparou ao menos nove vezes. Além dos dois tiros fatais na cabeça, Gabriel foi atingido no peito. “Não tentaram nem conversar”, completou o vizinho, que pediu para não ter o nome revelado na reportagem.
A testemunha diz que o PM se deu conta depois que o menino caiu. “Eu sou culpado. Vou responder pelo que fiz,” teria dito o policial.
Outro vizinho da família lamentou a tragédia.“Os policiais não estavam preparados para aquela ação. Foi despreparo total da polícia”, critica.
A monitora de creche Dione Hipolito, 41 anos, foi a última pessoa a conversar com Gabriel antes da tragédia. Ela conta que ele tava agitado e com a faca na cintura. Ele dizia que estava bravo com os pais. Segundo a vizinhança, Gabriel era tranquilo e não incomodava ninguém.
Dione tentava acalmar o garoto, quando a polícia apareceu. Ela conta que os PMs chegaram com as armas em punho e ordenando que o guri largasse a a faca. Nisso, o garoto teria dado um passo para trás. “Não teve nenhum diálogo. Eles poderiam ter tentado ao menos. Se tivessem um pouco de tato não teria acontecido essa tragédia”, lamenta.
Trabalhava no mercado
Gabriel deixa dois irmãos, de 11 e 13 anos. Ele estudava no 7º ano da escola Ilka Muller de Mello, no bairro Gravatá. O garoto sofria de crises de epilepsia e tomava a medicação Gardenal pra tratar as convulsões.
O garoto tinha feito a crisma este ano e deixou amigos na paróquia do bairro. A morte causou comoção na paróquia.
Os pais de Gabriel trabalhavam no supermercado Guarimar, de propriedade dos tios do menino, a poucos metros da casa da família. Gabriel costumava ajudar os pais no mercadinho.
Investigação
O delegado Rodrigo Coronha vai investigar o caso. As informações que recebeu da polícia Militar foi que o garoto teria investido contra eles com a faca. Eles não conseguiram contê-lo com os tiros de borracha e dispararam com munição letal. Rodrigo ainda vai ouvir familiares e testemunhas.
Conforme o delegado, os PMs deveriam ter prestado depoimento à Civil imediatamente, como estabelece a lei. No entanto, eles se recusaram a ir à delegacia e se apresentaram no quartel.
Continuam nas ruas
Em nota oficial, a PM informa que foi aberto um Inquérito Policial Militar que vai apurar as circunstâncias dos disparos. Enquanto isso, todos os policiais envolvidos na ocorrência continuam trabalhando nas ruas.
A nota oficial ainda diz: “Obedecendo os protocolos de uso progressivo da força, fez disparos de munição menos letal, de borracha, porém sem sucesso na contenção da agressão contra o policial. Restou, o emprego de disparos com munição letal.
Fonte: Diarinho