— Não quero prejudicar ninguém. Só quero ter o que é da gente — diz a costureira Eva do Carmo Nogueira dos Anjos, que perdeu a casa e todos os pertences na enchente de 2008 e até sábado aguardava por um novo lar vivendo de aluguel.
A frase é usada por ela para justificar a ocupação da casa que ganhou após a enchente, mas que ainda não foi entregue oficialmente pela prefeitura, pois as obras de infraestrutura não foram concluídas. Até o momento, duas famílias já vivem nas moradias construídas pela embaixada da Arábia Saudita em 2009, mas que ainda não têm luz, água e esgoto.
No sábado, todas as 70 famílias que irão ocupar o local receberam as chaves para que cuidassem dos novos lares. A decisão da entrega antes da conclusão partiu da prefeitura, como uma medida de garantir que as famílias não perderiam as casas, já que elas estavam sendo invadidas por pessoas que não tinham direito às residências.
Segundo a Secretária de Planejamento e Desenvolvimento de Gaspar, Patrícia Scheidt, logo após a enchente de setembro 20 famílias invadiram o loteamento e tiveram que ser retiradas com o auxílio da Polícia Militar e Polícia Civil:
— A entrega das chaves é uma forma de mostrar que as casas possuem donos e de minimizar a ação dos invasores.
Os novos moradores foram sorteadas para saber qual casa ocupariam e logo após a entrega das chaves as famílias de Eva e da filha Ivone resolveram que não iriam mais pagar o aluguel e se mudariam imediatamente para o local mesmo sem ter água, luz e esgosto. A mudança foi feita às 21h e os moradores passaram o domingo ajeitando e se adaptando à nova rotina.
Para Eva, não faz mal sofrer um pouco. Apesar de não poder usar o banheiro, tomar banho, ver TV, lavar roupa e de ter que jantar à luz de velas, a nova moradora diz que sofrimento maior ela já enfrentou em 2008:
— Sofrimento mesmo eu tive quando perdi tudo. Só saí com a roupa do corpo e graças a Deus com a vida da minha família. Agora, eu tô feliz e a gente vai se virando. Me emocionei quando entrei dentro do que é meu.
Em situação semelhante está a filha de Eva, a costureira Ivone. Ela pagava R$ 600 de aluguel na Margem Esquerda e agora se diz contente na nova casa, mesmo tendo que enfrentar algumas dificuldades, como ficar sem lavar roupa e ter que usar o mato como banheiro.
— Quando entrei na minha casa ajoelhei e agradeci a Deus, pois em 2008 acordei com a água dentro de casa. Foi uma vitória entrar na minha própria casa — conta Ivone emocionada.
A prefeitura está negociando com as duas famílias para que elas saiam do local.
Não há previsão para a liberação das moradias
De acordo com a secretária de planejamento, desde o começo do mês a Celesc está instalando a rede de energia elétrica, que deve ficar pronta no prazo máximo de 15 dias. Já a rede de água está sendo implantada pelo Samae desde segunda-feira e será concluída em 15 dias, se o tempo colaborar.
Mas os moradores terão quer esperar um pouco mais para que o processo de drenagem, esgoto e pavimentação das vias seja concluído e possam ocupar as casas. A liberação dos R$ 2 milhões oriundos do Ministério da Integração Nacional depende da aprovação do projeto pela Caixa Econômica Federal.
— Entregamos o projeto à Caixa em julho e no final de agosto eles nos solicitaram algumas alterações que já foram feitas. Só estamos esperando eles aprovarem para que possamos começar a licitação. A expectativa é para que seja liberado em novembro — diz Patrícia.
Após a licitação o prazo para conclusão será de seis meses, mas ainda não foi definida uma data para que as famílias ocupem as casas. O local ainda receberá uma escola para 200 crianças que deve ter o projeto e construção feitos pela Fundação Bunge.
Fonte: JORNAL DE SANTA CATARINA
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