Neste mundo globalizado, em que as
tecnologias se aprimoram a uma velocidade que impressiona, abre-se um leque de
oportunidades para a inclusão, no mercado de trabalho, de pessoas com
deficiência. Contudo, muitas dessas novas ferramentas esbarram no despreparo e
na desinformação de uma parcela da sociedade.
Segundo a analista de tecnologia assistiva da
Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência (Avape), Karolline Fernandes Sales, ela própria
deficiente visual, as empresas usam três argumentos para não contratar alguém
com baixa ou nenhuma visão. “Um
deles é o desconhecimento. Para a maioria dos empregadores, o cego não tem
condições de trabalhar, de chegar ao local de trabalho. Outro empecilho é o de
não saber utilizar um computador; sem falar do custo do leitor de tela, que
varia de R$ 1,3 mil a R$ 1,7 mil ou um pouco mais. O terceiro argumento é o de
que não existem pessoas qualificadas no mercado”, afirmou.
Em entrevista ao programa Sociedade Solidária, da Boa Vontade TV
(canal 20 da SKY), Karolline Sales, que também exerce a função de assessora de
comunicação da Organização Nacional de Cegos do Brasil (ONCB), contestou: “Conheço várias pessoas com deficiência
visual graduadas, pós-graduadas, que já concluíram o mestrado. Então, esse
argumento da falta de qualificação é mais hipotético do que real. Claro que
existem indivíduos sem qualificação, não só com deficiência, mas sem
deficiência também. A Avape, inclusive, é uma das pioneiras em capacitar
pessoas com deficiência, não só a visual”.
Um dos principais avanços no que diz respeito
à inclusão social foi a implementação da Lei de Cotas. Karolline Sales
esclareceu: “Essa lei determina, de
acordo com a quantidade de empregados, a contratação do trabalhador deficiente.
A grande dificuldade dos empresários, dos gestores, é como contratar, onde
buscar esse profissional? É aí que entra a Avape”.
Oportunidade e Competência
No programa, foi apresentada uma matéria com
o depoimento do deficiente visual Edi
Carlos de Souza. Com apenas 1% de visão, ele procurou a Avape para
recolocação profissional e começou a prestar serviço para a Secretaria do
Emprego e Relações do Trabalho (Sert), do Estado de São Paulo. Sobre a sua
capacitação, Edi Carlos comentou: “Precisei
passar por treinamentos porque uso dois sistemas. Um de leitor de tela — para
acompanhar as informações do computador — e outro do próprio sistema do
‘Emprega São Paulo’”. Orgulhoso de sua profissão, ele desabafou: “Infelizmente, no Brasil temos falta de
informação em relação ao deficiente. Hoje em dia, a tecnologia e os mecanismos
de acesso estão aí para todo o mundo verificar. O que a pessoa deficiente
precisa? De uma oportunidade. Esse é o xis da questão. Ninguém pode ser julgado
pela deficiência. Primeiro, o empregador tem que avaliar a capacidade, e não a
deficiência”.
E arrematou: “Você, que tem alguma deficiência, nunca se esconda. Estude, faça
cursos, procure, pois o mercado está precisando. E vocês, que são empregadores,
sempre acreditem e nunca prejulguem um deficiente. Deem a ele uma oportunidade,
depois o avaliem”.
Diante do exposto, é gratificante saber que,
apesar dos obstáculos, mais deficientes conquistam a cada dia maior
reconhecimento na sociedade e, principalmente, no mercado de trabalho.
José de Paiva Netto,
jornalista, radialista e escritor.
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