sábado, 18 de julho de 2009

Tragédia anunciada (2)

As obras emergenciais decorrentes da tragédia de novembro 2008 foram dispensadas de profundos estudos de impactos ambientais e suas autorizações aconteceram quase que automaticamente, sem maiores planejamentos e projetos, o que não significa que sejam negligenciados os cuidados que devem ser tomados com o meio ambiente.Os que estão acostumados e treinados para observar bem a natureza não deixarão de ficar preocupados com os serviços de dragagem que têm acontecido, por exemplo, no vale do Rio Garcia. O que lá acontece, pelo menos em grande parte, pode ser qualificado como um verdadeiro crime contra a natureza e contra as pessoas!As dragagens estão acontecendo ao longo de praticamente todo o curso d’água, mesmo nos lugares onde não há qualquer evidência de necessidade delas, ou seja, onde não existem inundações significativas e onde as enxurradas pouco ou nada causaram de prejuízos. Assim, equivocadamente, promove-se um melhor escoamento mais acima, onde há pouca ocupação humana, o que resultará em inundações ainda mais severas nas áreas já densamente povoadas e já muito castigadas com as enxurradas, mais abaixo.Como ecossistema, o Rio Garcia foi literalmente virado do avesso! Danem-se os cágados, as cobras-d’água, os moluscos, os crustáceos de água doce, os insetos aquáticos, os peixes de variadas espécies e outros tantos habitantes de suas águas. Dane-se também a belíssima paisagem natural do Bairro Progresso, que assim vai sendo rápida e barbaramente alterada. Locais de reprodução de piavas, como os espraiados e os hábitats naturais, como as tocas de jundiás, cascudos e enguias, os remansos, os poços naturais, os pequenos brejos, nada foi perdoado e tudo tem sido destruído pelas criminosas dragagens, e o que é pior, em muitos casos, a troco de absolutamente nada!Como se isso tudo não bastasse, nunca houve tanta movimentação de terra e aterros nas baixadas alagáveis do rio como agora, um verdadeiro liberou-geral ambiental, de gravíssimas consequências a médio e, principalmente, a longo prazo, para todos.O que está acontecendo é muito grave e não pode continuar desse jeito! Comunidades inteiras, como as centenas de famílias da região das ruas Emílio Tallmann e do Zendron, estão pagando muito caro por uma sucessão de erros cometidos no passado e não podemos condenar aquelas laboriosas comunidades a sofrer ainda mais no futuro. Para isso, temos que aprender de uma vez por todas a conviver em harmonia com a natureza, e parar de considerá-la uma inimiga que deve ser a todo o custo e de qualquer forma, subjugada, amordaçada, vilipendiada!

LAURO EDUARDO BACCABiólogo e ambientalista - Fonte: Jornal de Santa Catarina

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